sexta-feira, abril 27, 2012

Arrumei a cama


Acordei, levantei da cama, abri a cortina e deixei o sol entrar. Acordei de ilusões que eu criei quase sozinha, levantei da cama que nunca foi nossa, a luz entrou e devolveu a vida que não entrava naquele quarto há anos. Torci meu travesseiro e deixei escorrer anos de noites mal dormidas, de planos não realizados, de saudade de você. Como quem tava a tempo demais no escuro e, de repente, se depara com uma luz muito forte, me doeu os olhos, mas logo me curei. Não tive tempo de pensar no que se foi, no que não chegou a ser ou no que poderia ter sido.  Arrumei a cama, tinha visita. E perfumei o quarto, decorei, me refiz. É outono e quem diria? Deixei meu velho amor ser varrido junto com as folhas da estação. Tão clichê quanto minha espera eterna e inútil, nosso filme travado no replay, tuas desculpas sem culpa, ditas por obrigação e não pra se redimir. Deixei varrer porque não nascia flor a muito tempo, não é? Você sabe, você quem parou de regar. Sempre economizou água e o amor foi crescendo sozinho, se alimentando de mim. Mas agora tá voando pelo chão e eu tenho visita. Não me liga, por favor. Me poupe dessa reviravolta de querer tudo que eu sempre quis tanto te oferecer, só porque agora tô oferecendo pra outro. Você sempre me deixou pra depois, mas agora não tem mais depois, porque sou presente de um outro alguém. Presente em todos os sentidos, presente que você nunca chegou a abrir completamente, por falta de coragem ou interesse. Mas já não importa, porque daqui a pouco chega minha visita e eu não tenho tempo pra te explicar o que você nunca quis ouvir. Sempre fugiu e agora quer ficar? Não confio em quem não sabe o que quer. Queria o mundo e agora quer a mim, só porque arrumei a cama. Disse que te amava e você pediu pra eu não repetir, agora quer meu colo como abrigo? Não sou casa pra covardia, não tenho tempo pra gente mal resolvida, já sou peso demais pra mim. Enfim, agora me dá licença, a campainha tá tocando e eu preciso ser feliz. Tudo claro, calmo, tudo novo. Recomecei, me zerei, deixei entrar e, principalmente, sair. Você sempre quis o mundo, agora tem, sem ninguém disputando espaço. Tá achando pouco? Sempre fez questão, sempre quis tanta opção e agora, eu finalmente, te libertei, sem nunca ter te prendido. Devia estar feliz. Só me deixa também, sem bater na porta, pra não sentir o gosto de ser atendido por um outro alguém. Meu novo alguém. Fica bem. Fim.

segunda-feira, abril 23, 2012

Aprendi


Ao invés de reclamar do meu jeito ou me cobrar mais isso ou menos aquilo, procura saber meus motivos. Conta meus arranhões e descobre o porquê de cada um deles. Me diz se você, depois de entrar no mar e quase morrer afogado, vai sair mergulhando por aí em qualquer água. Liga pra quem me machucou e reclama com eles, ou agradece, porque hoje sou melhor. Cada entrega é menos intensa, até o dia em que não haverá mais entregas. E falta pouco, não sei se isso é ruim, mas eu prefiro. Prefiro continuar intocada até me deixar tocar quando realmente valer a pena. Não tenho medo de dor, só não quero dor por nada, não quero me acostumar e viciar nisso tudo. Quer me ensinar? Senta comigo, conversa, briga, sei lá. Mas não me fere por dentro, isso não. Teve tempo que eu não conseguia imaginar duas pessoas, depois de ter uma história, virarem dois estranhos, acenando um pro outro na rua, sem pararem pra se cumprimentar. Hoje eu faço isso, porque sou o contrário do que era: Entrar na minha vida é pra poucos, sair é pra quem quiser. Tudo é uma questão de ponto de vista, pode-se dizer que eu mudei. Eu prefiro dizer que, aos trancos e barrancos, aprendi.

sexta-feira, abril 20, 2012

Sou outra, ponto final


Vou te contar, foi difícil. Precisei revirar minha vida, pra te transferir pro quartinho de empregada.Me mudei por completo, por fora, cabelo, unha, roupa. Por dentro, jeito, pensamentos, coração. Precisei de outros caras andando pela casa e me enjoando, até um dia, um deles me fazer rir. Como você nunca tinha feito. E depois outro e você foi deixando de fazer falta. Só não quero que você me culpe. Sou outra, porque você me transformou, porque foi preciso. A mesma ia continuar sendo sua, de corpo e alma presa num nada. Você nunca foi embora, mas também nunca ficou. Pensava em mim, mas nunca se importou de verdade, nunca se esforçou pra dar certo. Sua ausência já me feriu muito, me fez pensar que eu nunca ia conseguir de fato partir e aceitar uma ausência definitiva. Mas hoje já não me importa, porque tua presença não compensa os dias de espera. Porque seu telefonema não me dá frio na barriga e sua voz não me deixa mais sem chão. Eu fechei meus olhos pro mundo pra só enxergar você e fiquei cega por muito tempo. Mas depois de olhar o mundo de novo, você já não tem mais cor, não se destaca. E tudo isso foi culpa sua, obrigada. Tantos conselhos de amiga que eu engoli pra continuar de olhos fechados, mas é assim, não é? Era você quem tinha que me fazer desistir, mais ninguém. E tá feito, tô feliz, sou outra e sou minha. Aprendi contigo mais do que havia aprendido toda a minha vida, voltei a ser minha com a mesma intensidade que fui sua um dia. Precisei de mil textos sobre você, distribuir essa loucura em linhas e hoje, vim te encerrar com as mesmas linhas que te deram início, continuidade e, agora, fim.

terça-feira, abril 17, 2012

Quase anjo


Eu nunca planejei um futuro com ele. Nunca acreditei que daríamos certo ou seríamos oficialmente um casal. Também nunca quis nada disso. Não por não gostar dele, mas por gostar diferente. Por gostar dele leve, sem essa areia movediça de compromisso, esse laço que quando você percebe, já virou nó. Que afasta as pessoas, ao invés de unir. Eu gosto dele assim, me fazendo feliz, me fazendo rir, me fazendo ver que é possível ser de alguém sem se perder. E que eu posso ir embora e voltar, sem dor. Eu sabia que eu era dele, desde o primeiro momento em que o vi. Sabia que, de alguma forma, estávamos conectados. Não pra sempre em questão de tempo, mas pra sempre na história um do outro. E eu tava certa. Ele entrou na minha vida só pra me curar. Pra me ensinar, gostar de mim, aprender. Ele podia ser um futuro namorado, um futuro cafajeste, um rolo sem importância. Mas não, ele é mais que isso, tava destinado assim, antes da gente se conhecer. Ele é quase um anjo, alguma coisa bonita assim, minha paz com hora marcada.

sexta-feira, abril 13, 2012

Direto ao ponto


Um dia eu namorei um cara e achei que tava amando. Foi tudo muito relâmpago, muito longe de amor. E eu nunca disse coisas sinceras, nunca passei do "Eu te amo" automático e vazio. E quando a gente terminou, tão repentinamente quanto começou, eu fiquei triste. Não por ele em si, talvez pelo fim da minha primeira história oficial, pelo ponto final que não foi colocado por mim. Nunca chegamos a nos conhecer a fundo, nunca admirei ele como pessoa, nunca me senti sem ar na presença dele. Mas me acostumei com a ideia de namoro, de alguém abrindo mão de coisas por mim, compromisso. E no fim, me culpei por não ter sido eu, não ter me exposto mais, por não ter feito as coisas tomarem um rumo diferente. Hoje, depois de conhecer o amor, eu vejo o quanto fiz bem, fiz tudo certo. Se não for amor, é melhor que não seja. Se for pra falar frases decoradas, que não fale. Se estiver com alguém por comodismo, que termine. E, principalmente, se alguém decidir ir embora, que vá. Nada de verdade tem fim e o que não é verdade, nunca acaba cedo.

quarta-feira, abril 11, 2012

Uma verdade


A verdade é que homem nenhum aguenta o exagero feminino. Mulher é meio maluca, a gente mesmo se enlouquece, se sufoca, debate sozinha e se atura, pra não assustar ninguém além da conta. A gente quase morre pra não falar de cinco em cinco minutos todo um filme que não para de rodar na nossa cabeça, o quanto a gente tá feliz, o quanto ele é incrível. Se controla principalmente porque homem também não sabe lidar com elogios. Não sabem a diferença de incrível pra insubstituível. E acho que essa dificuldade deles, apesar de mais simples, é muito mais autodestrutiva. Acreditar que é o melhor do mundo pra sempre, só porque uma mulher te encheu de elogios, meu bem? Mulher enche de elogios qualquer cara fora do padrão Idiotas, sapatos, bolsas, maquiagem... Você nem sabe se tá na categoria de Homens Diferentes, ao lado do ex amor, ou na das Coisas Possivelmente Úteis, do lado da sombra linda na promoção.

Tem trechos/frases que eu só posto lá e os textos daqui são mais atrasados. Beijosss!!

segunda-feira, abril 09, 2012

Você no sofá


 

Eu sempre tentei entender sua magia. Sei lá, queria saber o que me prende dessa forma absurda numa pessoa completamente oposta das minhas idealizações. E talvez seja isso, né? Você chegou inofensivo e, quando dei por mim, minha vida já tava de cabeça pra baixo. Quando eu vi, já tava assim, você deitado no sofá, tirando o controle da minha mão, da minha vida. Abriu minhas gavetas, revirou minhas coisas, pegou meu caderno de regras e saiu riscando tudo. Que abuso. Quem você pensa que é? Quando fica desconfortável, vai mudando de posição, todo espaçoso, pegando mais uma almofada. Nem me pede. A realidade é que você tá acostumado com a casa, sabe andar de olhos fechados, conhece cada lugar de tudo. E eu tô acostumada com você por aqui, visitando com esse ar de dono, sabendo mexer nas coisas sem bagunçar. Gosto da sua companhia porque, apesar dos pesares, ela é intensa e isso me fascina. Sentir o peso do seu corpo e ter a certeza que ali comigo tem mais que um corpo e só. Sempre te deixo entrar porque, mesmo quando você tá ausente, você tá lá, de alguma forma. E porque te expulsar exige mais que uma simples mudança da fechadura, é preciso mudar cada centímetro de tudo, cada pedaço de você infiltrado. E eu prefiro assim, o sofá com seu cheiro, você espalhado, o amor fantasiado de liberdade.

quinta-feira, abril 05, 2012

Sabe o que eu odeio?


Gosto de me sentir desejada, mas odeio quem conversa comigo olhando pros meus peitos. Odeio quem grita "Psiu" no meio da rua, as gracinhas masculinas, odeio esses idiotas que me fecham pra morder a boca enquanto eu passo. Não gosto que me subestimem ou limitem minha capacidade, gente que acha que eu posso ser bonita ou inteligente, nunca os dois. Odeio gente muito feliz, que não respeita a mau humor matinal do próximo e faz piadas no nível máximo e irritante de felicidade ás sete da manhã. Na verdade, odeio gente assim em qualquer horário. Detesto dar "Bom dia" e ser respondida com uma cara feia. Me tira do sério gente que tem necessidade de atenção, de gritar pro mundo o quanto é foda. E também gente que vive pra convencer o mundo de que é uma pessoa que não chega nem perto de ser. Me irrita gente que pergunta o que houve com a cara de preocupação mais forçada do mundo só pra matar a curiosidade sobre o que aconteceu e, não contente, ainda resolve distribuir clichês do tipo "Tudo passa, né", "O tempo é rei" ou "Deus sabe o que faz". Odeio quem senta do meu lado no ônibus e começa a contar a vida, ainda que eu esteja com fone de ouvido. Odeio não saber dizer não e ser simpática quando não devo. Me estressa gente que vem puxar assunto e deixa o assunto morrer depois do "Não tenho novidades". Odeio gente otimista que insiste em me tirar o prazer de reclamar. Também odeio os pessimistas ou realistas ao extremo, que nunca acreditam nos meus sonhos e eu tenho milhares. Detesto gente que confunde as coisas, que me ouve falar sobre o cara que eu gosto e minutos depois tenta me beijar. Odeio verão, odeio inverno, odeio não ter uma estação preferida. Odeio uma milhão de coisas, mas odeio principalmente, ainda assim, conseguir ser infinitamente amor.

segunda-feira, abril 02, 2012

Que se fechem as cortinas


Se você for silêncio, não haverá palavras ditas entre nós. Porque a única coisa que eu faço sozinha agora é ser feliz. Não vou amar por dois, falar por dois, entender por dois. Fazer minha parte já é muito trabalho e eu quase não dou conta. O que for pra ser, será. Não desespero, não corro, nem tento pular fases, atravessar tempos. Não mais. Tô com uma certeza estranha de que tudo vai dar certo, confio. Depois de uma tempestade, tô com medo até de brisa. Não quero nenhum tipo de cobrança agora, já me cobro demais. Acho que sou o meio das histórias, um meio sem saber como virar fim. Chego devagar, quando dou por mim, já comecei. E, aos poucos, me afasto, vou embora sem dizer adeus. Não por maldade, mas é que as coisas me tiram o ar e eu me sinto sufocada muito rápido. Canso de tudo, canso de mim também, de sempre me cansar. Aí eu volto pra histórias antigas, boto mais uma vírgula, começo uma nova, sem querer. E é também sem querer que sou impermanente ás vezes, é querendo permanecer que eu me ausento. Eu tento ser alguém mais estável, mais fácil, mais acreditada no amor e todas essas coisas. Mas no fim, meu teatro fecha as cortinas e eu de verdade entro em cena, pra finalmente ir embora, acreditando um pouco menos em tudo.
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